Um negro pobre torna-se
um dos maiores ídolos da música e da televisão brasileira nos anos 60 e, por
circunstâncias que fugiram ao seu controle, entrou no ostracismo. Parece
sinopse de filme, mas é um resumo da vida de Wilson Simonal.
O documentário de Claudio
Manoel (Casseta & Planeta), Micael Langer e Calvito Leal “Simonal – NinguémSabe o Duro que Dei” apresenta o artista descrito acima, sem esquecer o homem
que foi. Da pobreza negra carioca à classe média branca, com talento e algumas oportunidades,
Simonal esteve nas manchetes dos anos 60, seja por sua qualidade musical, a
vida que levava ou a polêmica que o derrubou. Era o auge do período ditatorial
militar brasileiro.
Fazendo uso de
entrevistas de pessoas como Chico Anysio, Miele, Boni, Toni Tornado (que merece
um documentário), Ziraldo, Castrinho, Nelson Motta, Artur da Távola, Pelé,
entre outros, o documentário retrata o momento conturbado que passava o Brasil
e a vida de Wilson Simonal.
As imagens da época
mostram um Simonal extremamente seguro no palco (que dividiu de Elis Regina à
Sarah Vaugham); as apresentações semanais na TV; seu envolvimento com as
mulheres; a ligação com o futebol e seu entendimento e engajamento sobre problemas raciais
que vivenciava. Tudo é colocado de maneira muito sincera.
Um dos depoimentos que
mais explica o Simonal vem de Miele, quando descreve uma ida à uma sauna no
Leblon e lá Simonal é recebido com toda a pompa das grandes estrelas. Ele pergunta a Miele que endereço é aquele só para confirmar
que aquela casa antes era de uma família que não permitiam que seus empregados
tivessem filhos. Sua mãe foi uma das empregadas que fazia marmitas escondidas
para dar a ele.
Mas o documentário é
extremamente corajoso, principalmente ao lidar com o processo que envolveu seu
contador (que segundo ele próprio, foi torturado com a anuência do próprio
Simonal), o DOPS, o seu suposto envolvimento com o SNI e, em seguida, seu
afastamento/esquecimento da mídia. Simonal supostamente cometeu o maior de
todos os crimes, o de delatar seus “pares”. Me parece o Calabar do século XXI
(comparando ao “mulato” que se tornou informante dos holandeses na “luta” contra os
portugueses no século XVII).
Os depoimentos mais
bonitos ficam por parte dos seus filhos, Max de Castro e Wilson Simoninha, que
cresceram com um pai depressivo, mas consciente da sua importância dentro da
música brasileira. A sua esposa, Sandra, dá o melhor depoimento de todos ao
falar como ele já mais velho e doente assistia aos shows dos filhos escondido
atrás de pilastras para que sua presença não “prejudicasse” suas carreiras.
Impossível não chorar junto com ela nesse momento.
Passado o tempo do bem
(esquerda) contra o mal (direita). Hoje precisamos reescrever a história, mesmo
que, infelizmente, o Simonal não esteja mais aqui para ressurgir sob aplausos,
no final apoteótico que seria sua jornada, caso não fosse real. Na realidade,
ele faleceu de cirrose devido ao alcoolismo que se instalou em sua vida.
Se hoje não podemos
mais aplaudi-lo de pé e tentar diminuir um pouco os estragos causados, podemos desfrutar das excelentes interpretações de Simonal e seus discos
que quando não podendo ser comprado, podem ser baixados com relativa
facilidade. Para quem passou a maior parte no ostracismo imposto, ter sua obra reverenciada
pode ser um alento.
Mais do que a história que foi divulgada que ele era delator dos colegas, o que realmente prejudicou Simonal foi o fato dele ser tão presunçoso, tão exibido e pedante... aquilo era terrível e realmente prejudicou a imagem do grande show man que ele era.
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