Todo herói precisa ter
uma conexão com seu público, certamente o Batman e o Homem-Aranha são os mais exitosos. O primeiro é um humano que faz coisas extraordinárias, o
segundo é um herói acidental que tem problemas financeiros e de
autoestima. Aí é onde o Superman leva muita desvantagem. Afinal, quem vai se
identificar com o alienígenas voador, super forte, bonito e que carrega um S
enorme no peito? Ele é o "bom moço",
o "sem graça", "nhém nhém nhém demais".
Mas de todos os heróis
que conheço, nenhum é tão complexo como o azulão de capa vermelha. Por quê?
Kal-el é a minoria de um só, literalmente. O último de sua raça. O imigrante. A grande ironia é que ele pode
subjulgar a todos e, mesmo assim, aceita viver sobre regras que aprendeu,
Afinal, cresceu com determinador valores (verdade, justiça e o modo de vida
americano - recentemente deletado em prol de uma maior aceitação fora dos EUA). Me pergunto, com os
poderes dele, o que faríamos?
As melhores histórias
do Kal-el/Superman/Clark não são aquelas em que ele usa sua força e agilidade
para derrotar inimigos "invencíveis", mas justamente aquelas em que
ele se pergunta o que deve fazer e qual o seu papel no mundo (vide os
quadrinhos como "O último filho" - onde descobre uma criança do seu
mundo; Grandes Astros - quando se depara com sua mortalidade; a animação
Superman vs The Elite, quando se questiona até que ponto deve usar sua força
ou o clássico Superman - o filme, onde muda a história pelo egoísmo de não
perder a mulher que ama). Todos são temas caros!
Na série Lois &
Clark, Kal-el diz "Clark é o que eu sou e Superman é o que posso fazer",
mas nenhum dos dois é ele, em essência. Quantas
pessoas ele é, então? Três?
Em um episódio da
animação da Liga da Justiça, o Superman mostra toda a sua frustração em viver
num mundo onde precisa controlar sua força todo o tempo, "um mundo de
papelão". Imaginemos, então, viver
num mundo que podemos destruir ou, simplesmente, impor nossas vontades?
Tentador, não?
No filme Batman v Superman,
o herói se questiona sobre o que deveria fazer no mundo onde foi criado. Num
momento insensato, dá a vida para salvar os outros. Não seria melhor ter pedido
para a poderosa Mulher Maravilha usar a lança e matar o vilão? Claro! Porém, o
que para alguns é uma falha no roteiro, é justamente, a grande sacada dos
roteiristas para mostrar um Superman
perdido e buscando reconhecimento dos outros. O que isso nos diz de nós
mesmos e da sociedade de alta exposição de hoje? Você quer aprovação dos
outros? O que você faria?
A frustração está
presente em toda a vida de Clark Kent, mas sem a esperança de uma cura (acabar
com o sol amarelo é fora de questão) ou um psicólogo para resolver seus
problemas. Afinal, quem entende de tripla personalidade com um terço
kryptoniano? A diferença é que o
Superman não fica jogando na cara das pessoas que tem problemas. Ele tenta
viver como pode, balanceando suas vidas...
Clark
quer chegar em casa, comer alguma coisa e ficar assistindo TV com a namorada.
Ele quer ter uma profissão, amigos e visitar a mãe nos fins de semana. Isso é
completamente diferente dos outros heróis que vão em busca de uma dupla vida,
seja qual for a motivação. Kal-el
vive a irreversível frustração de ser o último da sua raça e o Superman precisa ser o herói e o
monumento quase religioso da esperança da humanidade. Mostrar isso nunca foi
fácil. A maior fraqueza do Superman está nos roteiros, não nele.
E, sinceramente, não
consigo ver outro super-herói mais complexo que esse.