sexta-feira, 1 de abril de 2016

Superman, um cara complexo!

Todo herói precisa ter uma conexão com seu público, certamente o Batman e o Homem-Aranha são os mais exitosos. O primeiro é um humano que faz coisas extraordinárias, o segundo é um herói acidental que tem problemas financeiros e de autoestima. Aí é onde o Superman leva muita desvantagem. Afinal, quem vai se identificar com o alienígenas voador, super forte, bonito e que carrega um S enorme no peito? Ele é o "bom moço", o "sem graça", "nhém nhém nhém demais".

Mas de todos os heróis que conheço, nenhum é tão complexo como o azulão de capa vermelha. Por quê?


Kal-el é a minoria de um só, literalmente. O último de sua raça. O imigrante. A grande ironia é que ele pode subjulgar a todos e, mesmo assim, aceita viver sobre regras que aprendeu, Afinal, cresceu com determinador valores (verdade, justiça e o modo de vida americano - recentemente deletado em prol de uma maior aceitação fora dos EUA). Me pergunto, com os poderes dele, o que faríamos?

As melhores histórias do Kal-el/Superman/Clark não são aquelas em que ele usa sua força e agilidade para derrotar inimigos "invencíveis", mas justamente aquelas em que ele se pergunta o que deve fazer e qual o seu papel no mundo (vide os quadrinhos como "O último filho" - onde descobre uma criança do seu mundo; Grandes Astros - quando se depara com sua mortalidade; a animação Superman vs The Elite, quando se questiona até que ponto deve usar sua força ou o clássico Superman - o filme, onde muda a história pelo egoísmo de não perder a mulher que ama). Todos são temas caros!

Na série Lois & Clark, Kal-el diz "Clark é o que eu sou e Superman é o que posso fazer", mas nenhum dos dois é ele, em essência. Quantas pessoas ele é, então? Três?

Em um episódio da animação da Liga da Justiça, o Superman mostra toda a sua frustração em viver num mundo onde precisa controlar sua força todo o tempo, "um mundo de papelão". Imaginemos, então, viver num mundo que podemos destruir ou, simplesmente, impor nossas vontades? Tentador, não? 

No filme Batman v Superman, o herói se questiona sobre o que deveria fazer no mundo onde foi criado. Num momento insensato, dá a vida para salvar os outros. Não seria melhor ter pedido para a poderosa Mulher Maravilha usar a lança e matar o vilão? Claro! Porém, o que para alguns é uma falha no roteiro, é justamente, a grande sacada dos roteiristas para mostrar um Superman perdido e buscando reconhecimento dos outros. O que isso nos diz de nós mesmos e da sociedade de alta exposição de hoje? Você quer aprovação dos outros? O que você faria?

A frustração está presente em toda a vida de Clark Kent, mas sem a esperança de uma cura (acabar com o sol amarelo é fora de questão) ou um psicólogo para resolver seus problemas. Afinal, quem entende de tripla personalidade com um terço kryptoniano? A diferença é que o Superman não fica jogando na cara das pessoas que tem problemas. Ele tenta viver como pode, balanceando suas vidas...

Clark quer chegar em casa, comer alguma coisa e ficar assistindo TV com a namorada. Ele quer ter uma profissão, amigos e visitar a mãe nos fins de semana. Isso é completamente diferente dos outros heróis que vão em busca de uma dupla vida, seja qual for a motivação. Kal-el vive a irreversível frustração de ser o último da sua raça e o Superman precisa ser o herói e o monumento quase religioso da esperança da humanidade. Mostrar isso nunca foi fácil. A maior fraqueza do Superman está nos roteiros, não nele.

E, sinceramente, não consigo ver outro super-herói mais complexo que esse.



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