terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma conquista humana chamada David Bowie


Não há como entender bem Bowie. Talvez a chave seja apenas entender a idéia de Bowie, o homem – doente, às vezes assustado, um pouco lento, que possivelmente nunca mais grave ou faça turnês. Ver tudo que ele conquistou como simplesmente uma grande conquista humana
É assim que Marc Spitz termina “Bowie – A Biografia”. Após 430 páginas em que procura investigar, refletir e relatar vida e obra de David Jones, o David Bowie, ele se rende a essa impossibilidade ou apenas reconhece que entender Bowie seja impossível.
Mas possível e altamente recomendável é essa biografia. Coloco entre as minhas favoritas. Spitz, diferente de Howard Sounes, não enfatiza sua pesquisa apenas nas pessoas que saíram de forma negativa da vida do biografado. Ele lê outras biografias; conversa com diversas pessoas (incluindo pequenas biografias de cada um no texto, para apresentar sua importância na vida de Bowie); entende cada disco e visita os locais que Bowie viveu.
Vai além quando coloca algumas passagens extremamente pessoais dentro do texto. Deixa claro que é fã e que isso pode atrapalhar sua empreitada, mas escreve um texto que retrata o Bowie humano e o Bowie mito.
O Bowie humano que saiu de uma família pobre de subúrbio com uma mãe fria, pai encorajador e irmão deficiente mental; que conheceu música quando criança (como a grande maioria dos músicos ingleses da sua época) através de rádios que tocavam blues e rock’n’roll estadunidense; que logo na adolescência se interessou por arte e sexo na mesma intensidade; que precisou lidar com os várias frustrações no início da carreira; que ficou paranóico no auge da fama; que teve poucos mais duradouros relacionamentos, mesmo que a infidelidade fosse algo tão frequente que destruiu quase todos; que usou várias pessoas para atingir seus objetivos (o texto relata muito bem isso) e que hoje luta contra uma doença que, provavelmente, o deixa há quase 10 anos sem lançar um novo trabalho.
Mas há também o Bowie mito. O garoto mod que se transformou em hyppie; que criou o Ziggy Stardust e depois o destruiu no auge; que saiu do glitter e purpurina para adentrar na soul music; que criou alguns dos discos mais interessantes da história da música; que inventou o pop dos anos 80 em 1977 com a sua trilogia de álbuns alemães e, posteriormente, reinventando esse mesmo pop em 1983; que criou uma banda chamada Tin Machine mesmo quando não fazia sentido; que entrou de cabeça no drum’n’base e música eletrônica dos anos 90 e terminou essa década com seu álbum mais introspectivo. O livro apresenta o processo de criação da obra (tanto a parte musical como o conceito pensado por trás de cada novo momento) e contextualiza todas as pessoas e influências que fizeram parte da sua vida.
A lista de nomes influenciados por ele é enorme, eis alguns: U2, The Cure, Smiths, Placebo, Blondie, Madonna, Bauhaus, Lou Reed, Iggy Pop, Mick Jagger, T-Rex, Queen, Nine Inch Nails... Chegou, inclusive, a trabalhar com alguns desses.
Rock, Soul, Blues, Pop, Dance... tudo num só artista.
Além da música, Bowie se envolveu com teatro, cinema e mímica; foi pioneiro no uso da Internet; no relançamento de catálogo de discos; na androgenia e na coragem de se reinventar a cada momento.
Um dos artistas mais completos, mais relevantes e ainda assim, dos mais difíceis de entender. Esse é o Bowie retratado por Marc Spitz. Sem dúvida, uma conquista humana.

5 comentários:

  1. David Bowie é um camaleão, daí a dificuldade em entendê-lo e, principalmente, rotula-lo. Isso, pra mim, é uma virtude. Quebra a monotonia. Poucos conseguem isso. Tive dois LP's dele, ouvia muito na década de 80. Hoje em dia, nem tanto.

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  2. Concordo com vc... é um artista que raramente se repetiu. Admiro bastante... quais lp´s vc tinha???

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  3. Eu tinha o Pin Up´s e o Rise And Fal, aquele do Starman. Discos comprados na disco sete. Bons tempos.

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  4. Eu tinha o Pin Up´s e o Rise And Fall, aquele do Starman

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  5. Cara, discos muito bons... recomendo o Aladin Sane e Young Americans... excelentes!

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