segunda-feira, 23 de julho de 2012

Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Eu Dei

Um negro pobre torna-se um dos maiores ídolos da música e da televisão brasileira nos anos 60 e, por circunstâncias que fugiram ao seu controle, entrou no ostracismo. Parece sinopse de filme, mas é um resumo da vida de Wilson Simonal.

O documentário de Claudio Manoel (Casseta & Planeta), Micael Langer e Calvito Leal “Simonal – NinguémSabe o Duro que Dei” apresenta o artista descrito acima, sem esquecer o homem que foi. Da pobreza negra carioca à classe média branca, com talento e algumas oportunidades, Simonal esteve nas manchetes dos anos 60, seja por sua qualidade musical, a vida que levava ou a polêmica que o derrubou. Era o auge do período ditatorial militar brasileiro.

Fazendo uso de entrevistas de pessoas como Chico Anysio, Miele, Boni, Toni Tornado (que merece um documentário), Ziraldo, Castrinho, Nelson Motta, Artur da Távola, Pelé, entre outros, o documentário retrata o momento conturbado que passava o Brasil e a vida de Wilson Simonal.

As imagens da época mostram um Simonal extremamente seguro no palco (que dividiu de Elis Regina à Sarah Vaugham); as apresentações semanais na TV; seu envolvimento com as mulheres; a ligação com o futebol e seu entendimento e engajamento sobre problemas raciais que vivenciava. Tudo é colocado de maneira muito sincera.

Um dos depoimentos que mais explica o Simonal vem de Miele, quando descreve uma ida à uma sauna no Leblon e lá Simonal é recebido com toda a pompa das grandes estrelas. Ele pergunta a Miele que endereço é aquele só para confirmar que aquela casa antes era de uma família que não permitiam que seus empregados tivessem filhos. Sua mãe foi uma das empregadas que fazia marmitas escondidas para dar a ele.

Mas o documentário é extremamente corajoso, principalmente ao lidar com o processo que envolveu seu contador (que segundo ele próprio, foi torturado com a anuência do próprio Simonal), o DOPS, o seu suposto envolvimento com o SNI e, em seguida, seu afastamento/esquecimento da mídia. Simonal supostamente cometeu o maior de todos os crimes, o de delatar seus “pares”. Me parece o Calabar do século XXI (comparando ao “mulato” que se tornou informante dos holandeses na “luta” contra os portugueses no século XVII).

Os depoimentos mais bonitos ficam por parte dos seus filhos, Max de Castro e Wilson Simoninha, que cresceram com um pai depressivo, mas consciente da sua importância dentro da música brasileira. A sua esposa, Sandra, dá o melhor depoimento de todos ao falar como ele já mais velho e doente assistia aos shows dos filhos escondido atrás de pilastras para que sua presença não “prejudicasse” suas carreiras. Impossível não chorar junto com ela nesse momento.

Passado o tempo do bem (esquerda) contra o mal (direita). Hoje precisamos reescrever a história, mesmo que, infelizmente, o Simonal não esteja mais aqui para ressurgir sob aplausos, no final apoteótico que seria sua jornada, caso não fosse real. Na realidade, ele faleceu de cirrose devido ao alcoolismo que se instalou em sua vida.

Se hoje não podemos mais aplaudi-lo de pé e tentar diminuir um pouco os estragos causados, podemos desfrutar das excelentes interpretações de Simonal e seus discos que quando não podendo ser comprado, podem ser baixados com relativa facilidade. Para quem passou a maior parte no ostracismo imposto, ter sua obra reverenciada pode ser um alento.
 

Um comentário:

  1. Mais do que a história que foi divulgada que ele era delator dos colegas, o que realmente prejudicou Simonal foi o fato dele ser tão presunçoso, tão exibido e pedante... aquilo era terrível e realmente prejudicou a imagem do grande show man que ele era.

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