quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Layla em três versões (assorted?)

Sempre me perguntei o que define um excelente compositor. O que faz um arranjador, ou produtor, ou instrumentista? O que torna uma composição finalizada? O que a faz um clássico?


Essas perguntas podem nortear debates infindáveis. Mas o que quero mesmo é falar de uma composição e sua transformação. Feita por um dos melhores músicos de rock e blues, Eric Clapton, Layla é sua melhor criação. Com três versões!


A primeira, feita com a banda Derek And The Dominos em 1970 é uma aula de rock´n´roll com seu riff forte, vocal emocionante de Eric e, principalmente, sua segunda parte com um piano e guitarra se revezando sobre uma belíssima melodia. Um clássico! Uma composição para sempre. Um arranjo “definitivo”.


Mas aí Eric quis refazer tudo nos anos 90 para o ainda incipiente projeto Acústico da MTV (Unplugged) e reinventou Layla. Numa versão com violões dedilhados, um vocal mais contido e uma levada de balada. Era uma nova Layla. Até hoje fãs não conseguem escolher qual a melhor versão. Poucos artistas conseguem isso. Eric Clapton conseguiu!


Tudo Ok! Mas... Não é bem assim.


Em 2011, Eric juntou-se com o músico Wynton Marsalis para um trabalho extremamente arriscado, entrar de cabeça no blues e jazz da primeira metade do século XX e então Eric “refez” Layla novamente. Impressionante, nessa versão ela parece ter sido composta nos anos 40.


Com exceção da letra, não lembra as duas verões anteriores. Aliás, são três músicas completamente diferentes com a mesma letra e título. Parabéns Eric pelas três pérolas que você nos deu.


Obs: Essa é a música feita para Pattie Boyd, quando ainda era esposa de George Harrison que, anos depois, tornou-se Sra. Clapton!


Abaixo estão as três versões





segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Pra ser sincero...


Pra ser sincero, eu gosto dos Engenheiros do Hawaii. Não está no meu Top – 5 de bandas nacionais, mas certamente ocupa um lugar no Top -10.
Acabo de ler "Pra Ser Sincero" de Humberto Gessinger e confesso que foi uma das leituras mais agradáveis dos últimos anos. Interessante que só o adquiri o livro porque estava com um crédito na loja e não achei outra coisa mais interessante naquele momento.
Dividido em três partes, a primeira é uma auto-biografia leve e descompromissada. Humberto narra sua história como quem bate um papo numa tarde de sábado à beira da praia. Há trocadilhos e metáforas, marca de suas letras, por isso soa exatamente como ele. Não há aqui um ghost writer por trás. É como a letra de uma música, mas feita em prosa. Divide sua vida em anos, desde a infância até 2009, o que mais chama atenção, é como ele vê e interpreta a vida. Em vários momentos, ele disse exatamente o que sinto, mas não são assim os letristas?


(Obs: fiquei com muita vontade de colocar os trechos que mais me agradaram, mas acho que eles precisam ser lidos tal qual estão no livro. Transcrevê-los pode tirar um pouco do seu impacto no leitor)
Na segunda parte há várias letras de músicas com comentários do próprio Humberto. O momento mais voltado para os fãs é a terceira parte com o texto de Luis Augusto Fischer que mais parece um prefácio. Aliás, é um prefácio, mas colocado no final (Não, não é um pósfácio). Ressalto ainda o excelente trabalho gráfico que se assemelha a uma revista.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Retorno do CD e o Reencontro com o Copo



Eu tive um CD do Eagles chamado Hotel California, não era um disco muito bom, o que salvava era a música título, um clássico. Comprado numa manhã de sábado, ouvido pela primeira vez numa tarde de sábado e vendido em fins de 1999, quando eu passava por um aperto financeiro.

Pois bem, ontem estava numa das mais tradicionais lojas de Recife, a Disco de Ouro, com alguns amigos, quando vi um CD igual por apenas R$10,00. No impulso, comprei. Afinal, o valor era muito baixo e não pesaria no meu bolso naquele momento.

Era o mesmo CD! Impressionante, depois de mais de 12 anos ele retornou para mim. Como eu sei que é o mesmo? Os amassados do encarte, o selo Best Price na caixa de acrílico e um arranhado no disco. Detalhes que não passavam despercebidos quando eu manuseava os CD´s quase diariamente.

Foi uma sensação estranha, afinal, quantas pessoas o tiveram em suas mãos? Quem gostou, quem não gostou? Será que ele ficou naquela loja durante todo esse tempo (realmente não lembro onde vendi)? Essas perguntas agora ficarão na minha mente... Mas uma coisa é certa, ele ficará na minha coleção.

Curioso que duas semanas atrás, encontrei um copo idêntico a um que tinha e foi quebrado por uma amiga do meu irmão. Era da cerveja Hoegaarden, um copo com história (um amigo me deu na Inglaterra, depois de eu ter bebido uma pint nele – era do pub onde ele trabalhava e eu visitava). Ele não tinha permissão para me dar de presente, mas o momento – reencontro de dois amigos – ficou simbolizado por aquele gesto. Hoje eu tenho um copo idêntico. Encontrado em Caruaru! Serve de alento.

Janeiro vai terminar com a volta do CD que tinha sido meu e a substituição do copo que tanto gostava. Coisas pequenas, aparentemente sem importância, mas com grande significado nas lembranças.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma conquista humana chamada David Bowie


Não há como entender bem Bowie. Talvez a chave seja apenas entender a idéia de Bowie, o homem – doente, às vezes assustado, um pouco lento, que possivelmente nunca mais grave ou faça turnês. Ver tudo que ele conquistou como simplesmente uma grande conquista humana
É assim que Marc Spitz termina “Bowie – A Biografia”. Após 430 páginas em que procura investigar, refletir e relatar vida e obra de David Jones, o David Bowie, ele se rende a essa impossibilidade ou apenas reconhece que entender Bowie seja impossível.
Mas possível e altamente recomendável é essa biografia. Coloco entre as minhas favoritas. Spitz, diferente de Howard Sounes, não enfatiza sua pesquisa apenas nas pessoas que saíram de forma negativa da vida do biografado. Ele lê outras biografias; conversa com diversas pessoas (incluindo pequenas biografias de cada um no texto, para apresentar sua importância na vida de Bowie); entende cada disco e visita os locais que Bowie viveu.
Vai além quando coloca algumas passagens extremamente pessoais dentro do texto. Deixa claro que é fã e que isso pode atrapalhar sua empreitada, mas escreve um texto que retrata o Bowie humano e o Bowie mito.
O Bowie humano que saiu de uma família pobre de subúrbio com uma mãe fria, pai encorajador e irmão deficiente mental; que conheceu música quando criança (como a grande maioria dos músicos ingleses da sua época) através de rádios que tocavam blues e rock’n’roll estadunidense; que logo na adolescência se interessou por arte e sexo na mesma intensidade; que precisou lidar com os várias frustrações no início da carreira; que ficou paranóico no auge da fama; que teve poucos mais duradouros relacionamentos, mesmo que a infidelidade fosse algo tão frequente que destruiu quase todos; que usou várias pessoas para atingir seus objetivos (o texto relata muito bem isso) e que hoje luta contra uma doença que, provavelmente, o deixa há quase 10 anos sem lançar um novo trabalho.
Mas há também o Bowie mito. O garoto mod que se transformou em hyppie; que criou o Ziggy Stardust e depois o destruiu no auge; que saiu do glitter e purpurina para adentrar na soul music; que criou alguns dos discos mais interessantes da história da música; que inventou o pop dos anos 80 em 1977 com a sua trilogia de álbuns alemães e, posteriormente, reinventando esse mesmo pop em 1983; que criou uma banda chamada Tin Machine mesmo quando não fazia sentido; que entrou de cabeça no drum’n’base e música eletrônica dos anos 90 e terminou essa década com seu álbum mais introspectivo. O livro apresenta o processo de criação da obra (tanto a parte musical como o conceito pensado por trás de cada novo momento) e contextualiza todas as pessoas e influências que fizeram parte da sua vida.
A lista de nomes influenciados por ele é enorme, eis alguns: U2, The Cure, Smiths, Placebo, Blondie, Madonna, Bauhaus, Lou Reed, Iggy Pop, Mick Jagger, T-Rex, Queen, Nine Inch Nails... Chegou, inclusive, a trabalhar com alguns desses.
Rock, Soul, Blues, Pop, Dance... tudo num só artista.
Além da música, Bowie se envolveu com teatro, cinema e mímica; foi pioneiro no uso da Internet; no relançamento de catálogo de discos; na androgenia e na coragem de se reinventar a cada momento.
Um dos artistas mais completos, mais relevantes e ainda assim, dos mais difíceis de entender. Esse é o Bowie retratado por Marc Spitz. Sem dúvida, uma conquista humana.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Super-deluxe-deffinitive-plus-extra-bonus-immersion-box-set

Que o CD caminha para a extinção, é quase consenso. Os downloads vêm destruindo, na última década, o formato que seria “definitivo” para a música. Depois de algumas tentativas frustradas de lutar contra os downloads, a indústria fonográfica percebeu que o melhor seria “agregar” valor aos CD´s e assim os Boxes e as “edições de colecionador” nasceram!

Como todo o mercado precisa ser aquecido com freqüência, vemos anualmente dezenas de edições “deluxe-deffinitive-plus-extra-bonus-immersion-box set”. Isso deixa os colecionadores felizes e tristes. A felicidade vem de ter “a edição”, mas normalmente elas são caras, o que dificulta sua aquisição.
Nomes como Beatles, Pink Floyd, Queen, John Lennon, Rolling Stones e Led Zeppelin já tiveram diversos lançamentos dos mesmos itens. No Brasil, Chico Buarque, Gilberto Gil, Cazuza e Legião Urbana aderiram ao formato Box.

Porém, a grande novidade iniciada poucos anos atrás e agora quase onipresente é a edição extremamente recheada de discos importantes. Nesses últimos dois anos, Pink Floyd (Dark Side Of The Moon), The Who (Quadrophenia), Nirvana (Nevermind), Beach Boys (Smile) e U2 (Achtung Baby) chamam atenção. Essas edições são muito caras, variando entre U$100,00 a U$500,00, quando chegam ao Brasil, custam até R$1.600,00!

Normalmente, são cheias de discos, fotos, réplicas de ingressos e livros que são itens interessantes de se ter, porém algumas edições acompanham coisas como bola de gude, echarpe ou faixas com ruídos que seriam o embrião de alguma música. Os colecionadores correm para adquirir sua cópia e a indústria fonográfica encontrou um novo filão para lucrar.
Mas fica uma pergunta incômoda: será que um disco vale tanto dinheiro?






segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Rock'n'roll (AO VIVO) na mente!

Morando no sertão, sou olhado como um ET. “Como assim você não dança forró?”, “Ah... você gosta de rock? Eu também, adoro NX Zero”, “Blues é o que mesmo?”

SOCORRO!!!

Das coisas que mais sinto falta morando numa cidade do sertão, ouvir rock’n’roll ao vivo está no topo da lista. Não, eu não gosto de forró, axé, pagode, brega (e derivados). Tem que ser rock, ou sua matriz, o blues.

Cansei de música de barzinho, eu quero ouvir Beatles, Pink Floyd, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Rolling Stones, Eric Clapton, Bob Dylan, BB King e mais um monte de gente... Morando em Recife, essa era minha rotina de fins de semana e, em muitos momentos, durante a semana.

Sinto falta do barulho alto das guitarras e baterias. Da pulsação do baixo. Do teclado bem tocado. De alguém que realmente sabe cantar... E do repertório... Claro! Faz falta o ambiente escuro, as pessoas vibrando ao ouvir uma das suas músicas preferidas, o bom efeito da bebida alcólica e, principalmente, as melhores companhias. É legal poder estar num lugar em que as pessoas gostam das mesmas coisas... Como eu sinto falta disso!

No último sábado, pude matar um pouco da saudade... Quase dá vontade de morar em Recife novamente. Que cidade rock’n’roll. Obrigado Downtown Pub e On The Run (Belo tributo a Paul McCartney) pela melhor noite de 2012 até o momento.

Agora é revisitar todos os outros locais que me fazem falta até dia 31, rock’n’roll ao vivo na mente!


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Meia intimidade com Macca

Chegam as férias e eu posso ler aquilo que mais gosto: biografias! Já foram duas até o momento, vamos a primeira.


Cansado de ler ensaios, resenha, artigos, enfim... coisas curtas sobre Paul McCartney, sempre senti falta de um livro sobre ele. Há o excelente Many Years From Now, de Barry Miles, mas é uma biografia oficial que cobre basicamente os anos 60. Então, o livro “Fab – A intimidade de Paul McCartney” me chamou atenção. Seu autor, Howard Sounes, havia entrevistado mais de 200 pessoas e escrito um trabalho que cobria do nascimento até o início de 2009 do maior artista vivo atualmente.


Não li a primeira parte que tratava da sua vida até o fim dos Beatles, eu queria saber do Paul pós-anos 60 (por isso o meia intimidade). Aquele que eu conheço menos. Quanto a isso, o livro é bastante rico em informação e análise. São mais de 300 páginas que tratam da sua depressão com o fim dos Beatles; as diversas formações da sua segunda banda, Wings; seu casamento e dependência de Linda; seu encontro com artistas como Stevie Wonder, Eric Stewart, Elvis Costello e Michael Jackson; a vida mais reclusa dos anos 80; o envolvimento com a música clássica; seu relacionamento com a família (a “parentada” como coloca o autor); a volta às turnês mundiais; o projeto Anthology; a doença e morte de Linda (certamente a parte mais bonita da biografia); seu segundo casamento e os problemas do divórcio ~ entre tantas outras coisas.


Mas esse trabalho não é apenas uma apresentação sucessiva da vida de Sir Paul, é uma constante análise do seu comportamento e, em menos intensidade, da sua obra. Usando o disfarce de imparcial, Howard Sounes, deixa claro que não gosta de Paul McCartney. Nesse sentido, há o bom e ruim. É ruim porque há sempre uma opinião tendenciosa de mostrar que Paul não é a figura de bom moço “construída” nos anos 60 e reforçada nas décadas seguinte. O lado bom é que temos um Paul mais humano, um cidadão com inseguranças, desconfianças e problemas de relacionamento como qualquer um e não a figura ícone do século XX que ainda hoje está nos palcos tocando para milhares.


O problema é fazer isso apenas apresentando fatos. Esse é o grande problema do livro. Não há uma investigação da personalidade de McCartney que pudesse explicar seu comportamento e, com isso, o livro é falho. A escolha das fontes foi a pior possível. Basicamente foram entrevistadas pessoas que passaram pela vida de Paul e saíram com alguma mágoa... Mas acho que esse é o caso da grande maioria das biografias não autorizadas.


Ao me aproximar do fim do livro, entendi o porquê e da palavra “intimidade” no título. O momento que mais tem destaque é o divórcio que Paul vivenciou há alguns anos e Howard narra com a destreza de um jornalista de tablóide. A biografia é altamente recomendada para quem quer saber mais da vida de Paul McCartney (e não da sua obra), possui uma leitura ágil e atraente, mas deixo aqui essas ressalvas.

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