segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Eu não gosto de futebol


Hoje em dia sou considerado um velho. Tenho exatos 40 anos e cinco meses. Nasci logo depois do lendário tricampeonato da querida seleção brasileira por pouco não me chamei Carlos Alberto, o homem que levantou a taça Jules Rimet de 1970, roubada e derretida . Mas não gosto de futebol. Não torço pra nenhum time. Exceto a SELEÇÃO.

Eu até que tentei gostar, mas sabe quando você não tem a menor vocação para alguma coisa? Pois bem eu não tenho a menor vocação pra torcedor. Na verdade eu tenho paixão em torcer para a seleção brasileira. Em épocas de copa do mundo eu visto camisa, enfeito minha casa e tolero os comentários absurdos dos narradores e comentaristas da televisão. Paro tudo para assistir a minha SELEÇÃO jogar. Embora eu seja bem esclarecido e sabedor da cartolagem que existe por trás das decisões do título mundial hoje em dia. Durante esse período me deixo levar pelo patriotismo irracional e torço pela “pátria de chuteiras”.

O futebol se tornou uma paixão nacional por conta de ser a única alegria que o povo brasileiro teve durante a era negra da ditadura. Foi a saída que o governo teve para dar a alegria ao povo. Uma espécie de “panis et circense” tupiniquim.

Uma época nostálgica em que eu só ouvia falar de lendas que não mais brilhavam nos gramados como Didi e sua imortal “folha seca”; Garrincha e seus dribles desconcertantes; Pelé e seus gols mirabolantes e outros tantos. Entretanto pude ainda acompanhar craques como Reinaldo e Éder com seus chutes poderosos e assustadores; o time de ouro do Flamengo com Zico, Júnior, Leandro, Adílio, Andrade, Tita... ; Roberto Dinamite, o maestro do Vasco da Gama; Dadá Maravilha com sua paradinha no ar, tal qual um beija-flor ou um helicóptero, para depois batizar seus gols com nomes folclóricos; o Doutor Sócrates com suas jogadas de calcanhar e Wladmir do Corinthians; as defesas incríveis de Raul, Leão e outros tantos goleiros fantásticos, sem falar do lendário Mirandinha, goleador e matador dos gramados por onde passou.

Eu não gosto de futebol, porque hoje em dia não existem mais jogadores apaixonados por futebol. São superestrelas preocupadas com seus salários, com a quantidade de gols que as farão faturar mais, que fazem trocentos comerciais de TV para seus patrocinadores, preocupadas em ditar uma moda de cabelos, brincos, roupas... enfim, são qualquer coisa, exceto jogadores de futebol.

Em minha opinião, os jogadores de futebol de verdade ainda permeiam os campos de várzea, as terceiras divisões dos campeonatos estaduais, pois sabem que seus clubes não têm nada mais a lhes oferecer, e mesmo assim, suam a camisa em campos de gramados duvidosos ou da mais pura terra batida em busca de compartilhar com seus colegas de campo o glorioso gol, em busca da tão suada vitória e quem sabe dar uma entrevista em frente a um microfone coberto por uma flanela rota para a rádio difusora ou no máximo uma rádio de pouca frequência. Televisão? Um sonho distante.

Eu não gosto de futebol por que eu ia aos estádios com meu pai assistir aos jogos do Sport Club Recife, na época em que País e Merica eram ídolos e Nunes, do Santa Cruz, era o terror dos gramados e vi com estes olhos que a terra há de comer, o coração do então rubro-negro Carlos Alberto deixar de funcionar em plena Ilha do Retiro (Uma morte digna para um jogador), e hoje, não posso levar meu filho a um estádio por que as torcidas organizadas são gangues que aterroriza, assustam, espancam e matam mesmo os mais apaixonados torcedores e até mesmo os que não estão nem aí para o futebol.

Eu não gosto de futebol por que tudo se tornou um comércio, uma espécie de prostituição em que os jogadores leiloam seus passes, dirigentes arquitetem as melhores datas para os jogos que podem dar mais audiência à TV, mais bilheteria para os times e seus patrocinadores .

Eu não gosto de futebol por que eu tenho que contar quatro longos e malditos anos para que a próxima copa do mundo aconteça. Aí eu esqueço tudo que eu falei aqui e digo que amo futebol.

2 comentários:

  1. Sensacional! Muita coisa parece ter sido escrita por mim mesma, que interessante, kkkkk. Amei!

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  2. Na verdade, eu vejo uma diferença aqui... O futebol é o esporte, acontece nas quatro linhas durante os 90 minutos e isso é fascinante!!! O que você não gosta é o que está no entorno e, de fato, isso não é legal em vários casos... quanto as finais de copa, eu não acredito em arrumadinhos... Valeu André!!!

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