quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Universidade e Frustração

Cresci numa família em que meu pai era o exemplo do universitário que eu tinha como estereótipo. Cabelos longos, socialista, fã de Raul Seixas e Belchior, que sempre estava lendo algum livro e apresentava uma opinião crítica em relação ao mundo.

Há pouco mais de 15 anos eu ingressava na Universidade. Estava então com 17 anos e cheio de sonhos, esperanças, ansiedades, receios e mais um monte de sentimentos que nos cercam nesse momento. Passava a fazer parte do 1% da população que entrava em um curso superior (pelo menos era isso que dizia o panfleto que alguém do Movimento Estudantil me entregou).

Pensava que estaria entrando num ambiente extremamente atraente. Na minha primeira semana, tudo isso se erodiu... Os meus colegas eram tão perdidos quanto eu e com o “agravante” de ouvirem forró, pagode e axé, pelo menos eu ouvia rock´n´roll. Os socialistas, em sua maioria, falavam mal de tudo e todos, fumando maconha e bebendo cerveja com a mesada dos pais, esse não era meu mundo. Os “não-socialistas” faziam a mesma coisa, mudando apenas o conteúdo de algumas conversas, esse também não era o meu mundo. Havia ainda aqueles que trabalhavam o dia todo e quase sempre falavam de esposas, empregos e prestações, assuntos que eu nem conseguia acompanhar. Confesso que tive dificuldade de encontrar a minha turma. Afinal, eu não queria me casar, ter prestações, me embebedar todos os dias e muito menos fumar maconha e parecia, pelo menos para mim, que eu não poderia ser o universitário que imaginei ser.

Então aproveitei a universidade para namorar e encontrei uma menina que queria o mesmo que eu. Os meus dias não eram regados a discussões filosóficas, música “alternativa” e opiniões sobre tudo, mas longos beijos nas escadas. Com o tempo, descobri as possibilidades de pesquisa e segui esse caminho. A frustração sumiu. Olhando para trás, faria tudo novamente.

Agora vejo a Universidade de oura forma, afinal, trabalho em uma. A frustração que tenho hoje é de ver a grande maioria dos que a fazem, apenas reproduzir o que já foi feito. Vivemos “produzindo” artigos que aliam referencial teórico à experimentação/observação de alguma coisa. Entramos no modelo fordista e, esquizofrenicamente, procuramos atender aos requisitos da Capes e CNPq: produção, produção, produção!

Ainda hoje sonho com o universitário que tinha em casa na minha infância e fico pensando se ele estava apenas na minha imaginação ou se houve um tempo em que a universidade era um lugar melhor para se frequentar.

12 comentários:

  1. Eu tbm tive a minha "frustação" quando entrei na facu, e discordo de que só podemos ter uma opinião baseada em algum teórico! pocha como relataste nós nos tornamos "reprodutores" do conhecimento, eu sinto falta do tipo de estudante dos anos 1960 e 1970 que iam p/ a luta literalmente p/ conseguir o melhor p/ eles! mas como diz uma conhecida nossa só na barbárie que o prejudicado vai à luta, a prova disso é o que aconteceu na UPE recentemente, eu queria essa mudança mas espero que não seja preciso uma nova ditadura militar!

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  2. Legal. Você tinha cabelo!!!!!
    Como vai? Tudo certo na UPE?

    Conheci o reitor de sua universidade. Que cara chato. Como vcs suportam ele?

    Luiz Artur Cestari

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  3. Imagina eu, que já entrei coroa. Não tinha muita paciência nem tempo a perder. Sorte que encontrei uma turma - e que turma - com a mesma linha de pensamento que a minha. O bom de ter entrado com mais idade é que eu já tinha uma certa experiência de vida que me ajudou a me manter vivo na universidade. Por falar nisso - e a propósito da foto desse post - já parou pra pensar que somos sobreviventes do CFCH? Aliás, esse é um bom nome para a nossa confraria: "Os Sobreviventes do CFCH" kkkkkkkk Vou divulgar

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  4. Ed, acho que o nome de Sobreviventes do CFCH é perfeito, somos realmente sobreviventes de várias maneiras, ao prédio, aos professores, às pressões... Welton, a UPE ainda engatinha como universidade, mesmo que tenha várias décadas, em muitos momentos, parece uma escola de ensino médio, muita coisa precisa mudar em toda a Instituição... Artur, o nosso reitor é uma pessoa difícil, vai do mais afável ao grosseiro sem avisar, ainda bem que aprendi a conviver com pessoas assim com um velho conhecido nosso...

    Valeu pelo comentários!!

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  5. muito bom texto, acredito que todos sonhamos ser um universitario que não existe. forte abraço

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  6. Daniel, creio que você, infelizmente, está certo! Digo infelizmente porque seria muito bom se as coisas fossem diferentes...

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  7. Vi seu blog no blogueiros de Pernambuco. Gostei muito do post, pois quando estamos a trabalhar com os meninos no primeiro período do Ensino Superior nos deparamos com essa confusão de sentimentos que vai da euforia ao desencanto.
    Abraços.

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  8. Sid:
    Conheci voce ainda garoto e com uma vasta cabeleira. Foi através do seu pai meu colega de trabalho e um amigo fiel.
    Imagino como Pereira está orgulhoso.
    Parabéns pela sua vitória; por ter encontrado o seu verdadeiro caminho; por ser uma pessoa inteligente e formadora de opinião.
    Quanto ao desencanto com a Universidade acontece com quase todo mundo mas poucos expressam tão bem seus sentimentos como voce.

    Parabéns!

    Iracema Medrado

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  9. Anna, eu leciono no primeiro período porque tenho a preocupação de "apresentar" o mundo acadêmico para os novos estudantes... o que você diz, realmente acontece... Obrigado pela visita!

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  10. Oi Iracema, muito obrigado pelas palavras, eu criei esse blog pra dizer as coisas que normalmente tenho vontade, é uma maneira de se expressar mesmo, fico feliz que tenhas gostado, visite-o sempre que quiser! Quanto a vasta cabeleira? Foi embora deixando saudades! Um Grande abraço!

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  11. Excelente postagem Sid ...

    Esse dilema ou frustração como você apresenta, torna-se mais dificil quando nos deparamos com as vaidades e os egos indomáveis, mesmo quando se trata de alguém que repete através de um discurso diferente algo outrora já dito...como se novidade fosse.

    Um abraço para tu !

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  12. Mônica, eu ainda vou escrever sobre a vaidade na Universidade, estou esperando passar algumas semanas... ms o fato de se reciclar discursos é muito frequente mesmo... lamentável!

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