segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O que eu diria a mim mesmo (se me visse criança)

Na excelente série Life On Mars (na trama um policial volta ao ano de 1973 depois de ser atropelado e não sabe o porquê e nem como voltar), o protagonista encontra-se com a criança que ele foi e troca algumas palavras consigo mesmo. A cena é fantástica! Em outro episódio, ele “conhece” seu amigo e mentor quando esse ainda era um jovem.

E como só preciso de um estopim para fazer a mente viajar, fiquei imaginando como eu encararia essa situação. Como seria voltar no tempo e me ver quando criança. Voltar no tempo e não voltar a ser criança. Acho que criança eu ainda sou, só que com muitas obrigações, responsabilidade e um corpo mais velho. Mas voltar e ver a criança que eu fui, no ambiente em que vivi seria bem interessante. Esse tipo de viagem é impossível ainda, mas na imaginação eu já fiz.

Seria bom ver aquele menino magro de cabelos longos, pernas tortas e óculos maiores que o rosto jogando bola na rua às tardes (eu era péssimo, mas era o dono da bola) e brincando de “se esconder” à noite. Arengando com os meus melhores amigos por causa de um brinquedo (pipa, pião, comandos em ação) ou qualquer outra coisa tão importante.

Poderia me ver “caçando” carteiras de cigarros usadas que acreditávamos, valia alguma coisa; indo ao bairro vizinho escondido dos meus pais porque era “muito longe” e “perigoso” ou pegando um ônibus escondido para ir até o centro de Recife e voltar sem descer. Poderia me ver aprendendo a nadar no mar; vendo o Santa Cruz jogando no Arruda nas noites de quarta ou a minha felicidade quando viajava para a cidade das minhas avós (Pesqueira). Seria bom ver a minha reação ao ouvir pela primeira vez Help! na Rádio Cidade, me tornando um fã dos Beatles

Olharia para os meus amigos da “rua” e da “escola”, quando ainda eram crianças e ainda criávamos os laços de amizades que nos mantém até hoje, mesmo que o tempo pareça nos separar. Veria meus tios e primos tão presentes na minha infância e o tempo que passávamos juntos.

Veria ainda a minha mãe me levando à Mesbla e perguntando qual LP eu queria ter e eu fascinado com a generosidade dela e meu pai me acordando nas manhãs de sábado pra irmos à praia do Janga, quando eu ia morrendo de sono e felicidade. Seria bom ver meus pais mais novos, meus vizinhos conversando nas calçadas, as ruas e apartamentos ainda sem as reformas que deformaram o bairro. Seria bom poder ouvir a minha voz e poder conversar comigo mesmo (sem eu – o outro eu – soubesse).

Seria bom rever tudo isso agora com o olhar dos 33 anos. Poderia dizer tanta coisa pra mim, que eu usaria óculos por algumas décadas; que meu time me daria mais tristeza que alegria; que aquela menina que eu ainda iria conhecer, não valia à pena; que aquele colega seria meu melhor amigo; que aproveitasse mais a infância porque a adolescência seria muito difícil; que eu iria estudar na universidade a matéria que eu mais gostava na escola; que eu iria morar numa cidade que eu ainda nem ouvira falar; que eu realizaria o sonho de uma vida ao ver os Beatles (ou pelo menos metade) tocando ao vivo; que eu amaria um poodle chamado Mike; que eu ganharia uma irmã e sobrinhos lindos; que meu irmão pequeno ficaria mais forte que eu... Enfim, poderia dizer tudo isso, ou não dizer nada, afinal, talvez aquele menino não entendesse... Acho que eu apenas olharia para mim num exercício narcisista e saudoso e voltaria ao presente pra guardar mais uma lembrança.

Afinal, podemos medir nossa vida pelas lembranças...

3 comentários:

  1. Eita,"Life On Mars", boa lembrança. Vou ver a versão original, a inglesa, dizem que é melhor que a americana. Quanto as suas lembranças, muito lirismo, cara, bom relembrar. Eu tive uma infância em que alternava dificuldades com felicidades. Ao contrário de todos, não gostaria de voltar não, prefiro agora, sou feliz. Interessante esse post!

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  2. Eita,"Life On Mars", boa lembrança. Vou ver a versão original, a inglesa, dizem que é melhor que a americana. Quanto as suas lembranças, muito lirismo, cara, bom relembrar. Eu tive uma infância em que alternava dificuldades com felicidades. Ao contrário de todos, não gostaria de voltar não, prefiro agora, sou feliz. Interessante esse post!

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  3. Pois é Ed, Life On Mars foi indicação sua, que série fantástica! Eu tb não queria voltar a ser criança, gosto da minha vida agora, mas olhando pra trás, eu tive uma excelente infância, bem diferente da adolescência... Valeu!

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