quarta-feira, 14 de março de 2012

Insegurança e amadurecimento em 10 anos


Olhando em retrospecto, as minhas piores lembranças estão nos anos 90, lugar da minha adolescência e certamente a década em que mais evoluí como ser humano. Eu a comecei como uma criança, passei pelos piores anos e me encontrei comigo mesmo muito cedo.
Foi no inicio dos anos 90 que vi uma família se desfazendo; a infância se acabando numa manhã de sábado; a adolescência chegando com todas as “complicações” que a acompanha; a solidão de não me encaixar no “novo mundo”; a decepção com alguns familiares; as transformações no corpo e na mente; a responsabilidade de não poder errar e, principalmente, o amadurecimento “a fórceps”.
Faltavam tantas pessoas e abundavam tantos revezes que era difícil entender como uma infância tão feliz se tornara uma adolescência tão difícil. E o que um adolescente que gosta de rock´n´roll faz numa década impregnada pelo axé, forró, sertanejo e pagode? Como viver num mundo de sentimentos tão hostis? Pra onde se vai quando nenhum lugar é bom?
A música e o cinema ocuparam quase todas as lacunas. As tardes ouvindo Beatles e Pink Floyd e as noites assistindo filmes eram a rotina. As manhãs perderam a graça, na verdade elas pertenciam a minha infância. Na adolescência, a madrugada era mais interessante. O silêncio, a temperatura mais amena e a tranqüilidade me atraíam.
Sem esquecer o mundo lá fora, eu me refugiei no melhor lugar: em mim mesmo! Os anos foram passando e eu desesperadamente queria que a adolescência acabasse! Para mim, era esse o problema, ser adolescente.
E então veio precocemente a Universidade e as mudanças começaram...
Descobri que era notívago e não preguiçoso; que o álcool em poucas doses era extremamente interessante; que o sexo poderia preencher tantas lacunas quanto à música e o cinema; que namorar apenas uma mulher era bem melhor que ficar com um monte; que havia mais pessoas que partilhavam dos mesmos gostos que eu; que viajar era tão bom quanto ficar em casa; que alguns membros da minha família eram valiosos e outros dispensáveis; que a companhia dos amigos era tão boa quanto a minha própria; que eu não precisava fazer o que eu não queria só pra me encaixar em padrões; que respeitar as escolhas alheias é respeitar a mim mesmo. Era como nascer novamente, sair do útero, mas conscientemente percebendo que entrava na vida adulta e o século XXI seria fantástico.
Encontrei minha turma, meus amigos, minha família, minha vida e meu lugar. Os anos 90 começaram com uma criança insegura e perdida e terminaram com um adulto mais maduro que os da sua idade.
E depois que eu consegui isso. Decidi me dar um tempo e ser adolescente.

6 comentários:

  1. Belo texto, Sid. Veja só, passei por uma fase parecida na década de 90, fiquei deprimido. A diferença é que eu já tinha passado da adolescência. Sobrevivi ouvindo música!

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  2. Por isso quando vejo a frase "Music saves" eu entendo plenamente!

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  3. Esse "ritual de passagem" trouxe a sua grandeza interior! E mais: você é um adolescente leve e agradável, ao contrário de tantos outros...

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  4. Mestre, me encontrei e me reconheci no seu texto. Emocionante para mim, o quanto se assemelhou aos momentos meus!

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    1. Gesner, as vidas são mais parecidas do que imaginamos... Grande abraço!!

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  5. Mestre, me reconheci e sinto-me contemplado com seu texto.

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